sexta-feira, 18 de junho de 2010

“Não tem regra”, isso me diz meu analista. Como assim “não tem regra”? retruco eu em pensamento. “ É. Não tem receita para segur, 10 passos, erros e acertos, tem que ir vivendo”. Ok, isso eu já entendi. Mas tem horas que tudo que você quer é uma equação. Uma formulinha que vc sabe que se fizer A+ B será igual a C. “Mas não tem”, me olha ele com aquela cara de ‘só sorry, dear’. Bom, e aí? Se não tem receita, não tem regra, então qual é a explicação para as coisas que não dão certo? Como é que a gente lida com a sensação de ‘virou fumaça’ quando alguma coisa que a gente quer muito... escapa das nossas mãos? Há de ter uma fórmula e as toneladas de livros de auto-ajuda estão aí para isso, meu querido e amado terapeuta. Religião, velas, curso de reiki. Alguma coisa tem que dar conta desse vazio. Dessa coisa nebulosa que não deixa a gente ver. Qual é o caminho? Tem que existir, oras. Em toda bíblia, Torá, Talmud, Alcorão tem. Mais de um, o de Moisés, Abraão, Maomé. Até os orixás têm um caminho. E a natureza então? O Rio não muda de rota... ele sabe direitinho onde vai. Lembra do Sidarta do Herman Hesse? “olhar o curso do rio”. Só nós aqui que não temos, somos esse bando de perdidos numa noite suja. Vidão, mesmo.
“É o poder da escolha”, ele me diz calmo. QUEM DISSE QUE EU QUERO ESCOLHER? Eu quero. Mas não o tempo todo. Esse bando de possibilidades, poxa, deixa a gente tonto. É muito. É Woody Allen, Carrie Bradshaw - tudo no mesmo balaio. Samba, suor e carnaval ao som de Rooling Stones. Gente, dá para colocar ordem nisso aqui, Sr. Terapeuta? Muita informação nessa minha cabecinha. Vai moço, me passa uma receita, te pago muito caro então eu quero uma solução pra esse soluço que volta de tempos em tempos. Essa coisa que não passa. Uma sensação morna.
Então é isso. Não tem caminho, nem soluçãozinha paliativa. É você e você. Do outro lado esse mundão aí.

terça-feira, 18 de maio de 2010

sábado, 15 de maio de 2010

O Velho e eterno Francisco

Depois de voltar de Paris é impossível não pensar no Chico Buarque. Não por nada. Ás vezes a gente vive uma fase mais Caetano, cansa um pouco da chicomania, enjoa que ele é bom em tudo, fica de bode desse jeito inacessível dele. Mas são fases. Ainda to para conhecer a mulher que vai para Paris, passeia da Île de Saint-Louis e não dá nem uma pensadinha: “hum, o Chico mora nesse bairro, será que eu vou encontrar ele?” Impossível. Aquela ilhota romântica, na cidade mais romântica, com a luz mais romântica... Chico, você não presta.
Ele foge das meninas histéricas brasileira... em Paris? Ora, assim não dá.
Quando vê, já estamos cantalorando Futuros Amantes nas esquinas da Rue de Rivoli. Ah, gente, isso não é justo. Porque quando entra-se numa “fase Chico Buarque”, gruda que é uma beleza. São meses escutando cds antigos, horas a fio no youtube vendo os vídeos reveladores, intermináveis especulações sobre o fim do casamento dele com a Marieta: “ele traiu? Ela aguentou? Ela é o máximo, ele está péssimo, 30 anos casada com o chico, jesus”. É muita intensidade, gente.
E os homens concordam. Nenhum é besta de criticar o Chico deliberadamente. Os mais ousados ficam em silêncio ou dizem? “é. ‘o cara’é bom”. Adoro quando eles chamam o Chico de ‘cara’. Depois vem o desespero, né? Quando vc percebe que está num buraco de Chico Buarque sem fim, tenta inventar os defeitos. Percebe alguns versos machistas nas músicas, acredita que como homem ele deve ser meio esquisito... mas não tem jeito. É um caminho sem volta. O jeito é esperar passar ou ser arrebatada por um cantorzinho de quinta que saiba como ninguém... inventar um Chico Buarque.

Para ouvir o top ten do poeta ( da autal fase)

- Joana Francesa
- Mambembe
- O Velho Francisco
- A Rosa
- Morena dos olhos d’água
- O que será (A flor da pele)
- Você vai me seguir
- Biscate
- Estação Derradeira
- Mil perdões

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Margarita

Querida Margarita,
Estou tão contente que vou te reencontrar que quase não caibo em mim. Lá se foram 6 anos e aquela menina moleca está mais para uma moçoila rabugenta do que aquele pote de mel que vc conheceu.
Fico ansiosa só de pensar em descer na estação Vallcarca e subir a calle Gomis. Pegar aquele elavadorzinho peque e entrar na sua casinha com cheiro de essência de limão. Saudade. Acho que eu vou ficar um pouco nostálgica, mas tudo bem, né? Vc promete que me dá um abraço de madre catalana? Então tá.
Foi o Guimarães que disse que "o correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta". Ainda bem.
Lembro como se fosse hoje: eu friorenta, hospedada na sua casa, sempre te pedindo mais um cobertor. No primeiro dia vc me deu uma manta bem grossa. No segundo, um saco de avelãs quentes para colocar no pé. No terceiro dia, vc desistiu. Colocou um cobertor na minha cama que era praticamente uma pele de urso, só faltava a cabeça. Sempre terna e querida. E não é que tivesse sua acidez. Catalaníssima, cheia de opoiniões, intensa e corajosa. Cozinheira de mão cheia. Nos colocou pra trabalhar. Ensinou a fazer um nhoque maravilhosos e um pá amb tomaca inesquecível. Saudade. Dos papos na sala de estar cercada de livros, da porta da sala entre-aberta quando vc estava com su "compañero". Tão querida e cuidadosa com as suas "nenas". Nunca vou esquecer de vc explicando que a gente não poderia demorar no banho porque "no tenemos tanta agua como en vuestro pais" FOFA. E cheiro de quando chegava com o maço de jasmin nas mãos...
Viu só, Margarita querida, sou reclamona mas sei bem lembrar de todos os detalhes especiais da estadia na 'amiga barcelona'.
To chegando para te dar um beijo carinhoso, brindar com um bom vinho espanhol e ouvir suas histórias.
Besote de tuya nenita,
Marilia

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Freud, Caetano e os meninos do Santos

Querida Natalinda,
Aqui na terra falta um pouco de samba, bossa e rock ´roll. Acho que as pessoas, de um modo geral, estão muito desinteressantes. Ou melhor, desinteressadas. Ninguém lê, paira um ar de superficialidade nos discursos e, juro, até nas piadas. Falta humor inteligente, sacadinhas de quem, hum, sabe. Sabe? E digo pra você, minha amiga, isso não é um olhar meu não. Vc sabe, sou sensível, panda, sempre pronta para perceber o melhor de cada um. Acho mesmo é que as pessoas estão ficando cada vez mais burras. Educadas à base de BBB e sitcoms americanos. Epa, não é que eu não assita hein. Tbm adoro passar a tarde contaminada pela preguiça, vendo essas besteirolas. Mas só isso não dá, né. Não sei, mas falta um quê. Um suspiro de diferença. Tá tudo muito padronizado, muito "facebook". Nego coloca lá: "vou almoçar" e tem 800000 mil comentários. Gente, falta do que fazer. Essas frases soltas, jogadas numa tela. Vouyerismo puro. E não tem escape, a gente acaba ficando refém. Eu tbm. Vira e mexe coloco alguma coisinha lá. Loucura esse mundo. Aí vc sai com as pessoas e sabe do que elas falam ? Do facebook, quem fez, quem deixou de fazer e quem colocou o que lá. É maluquice pura. Me dá uma aflição. Ninguém vai ao teatro, troca uma impressão sobre um filme que não que seja: "passei mal assistindo avatar 3d", ninguém tem uma música nova pra te apresentar. Mesmice, padrão. Até a comida tem o mesmo gosto em todo lugar. Estou começando a achar que São Paulo está ficando que nem os Eua. Pessoas bem-educadas, burrinhas e medíocres. Ui, to pesada hoje, né.
Fora o papo do futebol. Ah gente, sabe. Tem limite pra tudo. Homem que é homem, sabe falar de outras coisas que não só futebol. E veja só, eu sou uma mulher que gosta do esporte con la pelota. Outro dia mesmo tava aqui fascinada com esse time do Santos. Cheio de meninotes que se divertem jogando, vc precisa ver, Nata. Me remete àquelas frases do meu pai: " no tempo do Pelé se jogava com arte". Hahaha uma gracinhas, os meninos. Cada gol que eles fazem é um rebola pra ca e rebola pra lá, super divertido. Mas então, aí tem esses que só ficam articulados na hora de falar de futebol. Madre mia! Sai do Uol, mané! Vai ler algum livro, Chuchu, que vai fazer um bem danado pra essa sua cabecinha cheia de cerveja.
Ah mas isso não se restringe aos homens não, viu Nata. As mulheres tbm estão desinteressantes. Muito encimesmadas, até um pouco egoístas, paranóicas. Perdendo o charme, a leveza. Ficando... fúteis. Essa coisa de itgirl, de fazer pose como se tivesse em Manhattan... hello, Brasil.
Tudo isso pra te dizer que fui ver o Wisnik falando sobre Freud no Sesc Pinheiros. Com a participação saborosésima de Caetano Veloso cantando uma música linda que eu não conhecia que chama "Mãe". Ele meio tímido, falou que estava até "um pouco grilado" de cantar aquela música. Foi lindo. Tinha verdade, sentimento, entrega. Coisa de gente que sabe fazer. O wisnik mais ainda, nem preciso te dizer que os meus olhinhos brilharam quando ele conseguiu achar os conceitos do Freud no Machado de Assis e pasme, em Gregório de Mattos.
Aí, Nata, a gente vê. Como tem gente interessante, inteligente com coisas para dizer, acrescentar e trocar. Que não vive de literatura barata de baixo augusta ou de jornalismo esportivo. É gente que fala de alma, sabe?
Saí de lá, saltintante e preenchida. Quero ler a obra completa de Freud. De repente até me arrisco a responder a célebre do velhinho austríco. O que querem as mulheres?
Depois de tudo isso, te peço pra me contar um pouco aí desse seu mundo que, com toda certeza, tem pessoas e coisas muito mais interessantes e please, me sopra suas ternurinhas, to chegando e vc, sabe. Quero estar atualizada dos assuntos.
Beijocas
Mazi

sexta-feira, 19 de março de 2010

Doce, o Nascimento

Querida Natalinda, Muito tempo e muita saudade. Horrível essa rotina massacrante que deixa a gente sem tempo para ficar perto de quem a gente gosta.
Me conte alguns suspiros de Berlim, por favor? Acho que quando fui para essa cidade, estava de olhos (ou coração, talvez) vendados. Porque não vi a beleza contraditória da qual todo mundo fala. De novo, a beleza tá na gente né? E se não estamos abertos, nada deve impressionar. Me conta daí. O que você e a Fe têm aprontado. Como são esses alemães, tão complexos. Fortes, esbeltos, culpados, caxias. Me diga se acha que eles são felizes.
Amiga, ontem entrevistei o Milton Nascimento. Depois de muito tempo tentando, correndo atrás do Bituca, ele cedeu. Acabou sendo por telefone mesmo. Pensei comigo: “Poxa, justo com o Milton?”, boba eu. Porque até por telefone ele consegue ser apaixonante e doce. É, doce. Tão dulce que ‘uele a azucar’, não é assim que você fala ?
Logo no começo da conversa contei que era sua amiga. Nata, ele ficou em silêncio alguns segundos e riu. Sabe aquela risada que escapa meio olhando para baixo? Pois foi assim. Me contou que quando foi para Roma, ano passado, um show dele foi cancelado. E ali, passeando pela Piazza Navona, uma “mocinha muito simpática e bonita” foi saltitante na direção dele. Que a mocinha era você, eu já sabia. A novidade para mim é que vocês ficaram amigos. E zanzaram por Roma um dia inteiro juntos. Foram ao Coliseo e à Fontana di Trevi. Que foi um dia lindo. Olha, nessas, ele deixou escapar que dedicou uma música para você no disco que está gravando. Eu insisti pra ele me contar ao menos um verso mas ele não quis. É surpresa. Depois me pediu seu telefone, falou que tem seu e-mail mas que não tem o hábito de usar internet.
Depois vc me conta quando ele te ligar? Também quero ficar amiga do Milton. Ele é aquele mineirinho de papo bom que a gente sente que conhece desde sempre. Demorou 13 minutos para responder só a primeira pergunta e contou causos deliciosos de Minas, Rio e até da Dinamarca. Aí Nata, lembrei de uma aula do Walter. Em que ele disse que a voz do Milton tem uma tristeza que é histórica. Sabe que eu senti essa “força histórica” que ele falou. Mas não a tristeza. Rimos a entrevista inteira.
Tudo terminou com um convite para gente comer um tutu de feijão e um lombinho lá em 3 pontas, na casa da irmã dele.
Bora, Natalinda? Assim vc mata a saudade do temperinho inovidable brasileiro.
Beijos saudosos
Mazi

quinta-feira, 11 de março de 2010

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Carta de Mãe

Queridos filhos,
Nossa casa está a venda---linda,cuidada,ajardinada e muito amada. Ela é tão maravilhosa que aceitou meu tempo de dela sair. Por mim não é somente pela escada—é pela necessidade de mudar. Morar fora do chão, abrir uma janela para um céu maior, ver outros rostos, outra feira e, principalmente, outro tipo de luz. Ficar, quem sabe, mais perto dos meus filhos,ver a Teresa crescer sem ter que atravessar a cidade e viver com menos medos.
Sei que mudanças,quase nunca são externas mas, sim, um reflexo das que se desenham internamente. O que me tranquiliza é que sei que a deixarei sem nostalgia. Acho que não é o caso do papai. As pessoas, enfim, não são iguais mas ele me entendeu.
Sinto que essa casa cumpriu seu tempo, dando a vocês, uma infância feliz, correndo na rua, e com amigos pra brincarem. E para mim e papai, momentos de extrema alegria e crescimento espiritual. Aqui engravidei aos 40 e Marilia nasceu e floresceu.
Já comecei a ver alguns aptos com terraço para por minhas plantas....e ter uma terrinha prá cheirar quando chover.
Ao longo da vida fiz poucas mudanças, mas aprendi que é importante saber a hora de mudar.
Conto com a compreensão de vocês, afinal, a casa foi e ainda é de todos nós.
Mamãe.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Silêncio afinado

"Todo silêncio é música em estado de gravidez", disse o Mia Couto, num livro lindo.
Eu nunca soube muito bem como interpretar os silêncios. E essa falta de habilidade sempre me prejudicou muito. Eu sou muito falante e as falas em excesso deixam poucos espaços vazios: os tais silêncios. No jornal, aprendi na diagramação que toda página precisa de uns buraquinhos brancos, sem linhas ou fotos, os respiros – ou silêncios. É, difícil lidar com eles, eu sempre falo para o diagramador: “mas vai ficar esse buraco aí? Não é melhor a gente colocar alguma coisa? ” É que a gente confunde silêncio com tédio. Mas não é. É a mesma sensação que dá quando acaba a luz de casa. Dá uma ansiedade, um desespero, a gente pensa: “mas e agora, o que eu vou fazer? Não posso assitir tv, ler, entrar no computador” ... é vc vai ter que ficar em silêncio, pensar, conversar com alguém. Não é fácil, precisa de tempo para entender os silêncios. O Mia Couto foi maravilhosomente esperto nesse livro que chama Antes de nascer o mundo: ele inventou um “afinador de silêncios”. Sim, é um personagem que fica perto das pesoas e “ tece os delicados fios com que se fabrica a quietude”. Não é lindo isso? Eu já tive alguns afinadores de silêncios. São aquelas pessoas que, só de estar perto, já basta. E que quando abrem a boca já estão com o silêncio tão afinado que nasce uma música. E hoje, não sei porque razão, me deu vontade de falar deles. Desses afinadores geniais que andam na contramão do tempo, do trânsito e dos problemas cotidianos. Esses pequenos vaga-lumes que – mesmo que de passagem – só deixam lembrança e o maior dos ensinamentos: o bem-estar com os espaços vazios que são, na realidade, a nossa maior liberdade.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Iemanjá


salve a rainha do mar, dia 02 de fevereiro

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Das mazelas de ser panda

Pela maga mestra, Clarice

... e começou o meu calvário de anjo - pois a mulher, com sua voz autoritária, já tinha começado a me chamar de anjo. Não poderia ser menos comovente o seu caso: aquela era a noite de uma première e, se não fosse eu, o vestido se estragaria na chuva ou ela se atrasaria e perderia a première. Eu já tivera as minhas premières, e nem as minhas me haviam comovido. “A senhora não sabe o milagre que me aconteceu”, contou-me com firmeza. “Comecei a rezar na rua, a rezar para que Deus me mandasse um anjo que me salvasse, fiz promessa de não comer quase nada amanhã. E Deus me mandou a senhora.” Constrangida, remexi-me no banco. Eu era um anjo destinado a proteger premières? A ironia divina me encabulava. Mas a senhora, com toda a força de sua fé prática, e tratava-se de mulher forte, continuava impositivamente a reconhecer o anjo em mim, o que só pouquíssimas pessoas até hoje reconheceram, e sempre com a maior discrição. Tentei sem jeito a leveza de um sarcasmo: “Não me supervalorize, sou apenas um meio de transporte”. Enquanto que a ela nem sequer ocorreu compreender-me, eu a contragosto percebia que o argumento na verdade não me isentava: anjos também são meios de transporte. Intimidada, calei-me.
(...)
A verdade é que ser anjo estava começando a me pesar. Conheço bem esse processo do mundo: chamam-me de bondosa, e pelo menos durante algum tempo fico atrapalhada para ser ruim. Comecei também a compreender como os anjos se chateiam: eles servem a tudo. Isso nunca me ocorrera. A menos que eu fosse um anjo muito embaixo na escala dos anjos. Quem sabe, até, eu era só aprendiz de anjo. A alegria satisfeitona daquela senhora começava a me deixar sombria: ela fizera uso exorbitante de mim. Fizera de minha natureza indecisa uma profissão definida, transformara minha espontaneidade em dever, acorrentava-me, a mim, que era anjo, o que a essa altura eu já não podia mais negar, mas anjo livre.

(...)
Caí em mim e fechei a cara. Um pouco mais e teria dito àquela de quem eu era com tanta revolta o anjo da guarda: faça o obséquio de descer já e imediatamente deste táxi! Mas fiquei calada, agüentando o peso de minhas asas cada vez mais contritas pelo seu enorme embrulho. Ela, a minha protegida, continuava a falar bem de mim, ou melhor, de minha função. Emburrei. A senhora sentiu e calou-se um pouco desarvorada. Já na altura de Viveiros de Castro a hostilidade se declarara muda entre nós.
(...)

Ao saltar do táxi, assim como quem não quer nada, tive o cuidado de esquecer no banco as minhas asas dobradas. Saltei com a profunda falta de educação que me tem salvo de abismos angelicais. Livre de asas, com a grande rabanada de uma cauda invisível e com a altivez que só tenho quando pára de chover, atravessei como uma rainha os largos umbrais do Edifício Visconde de Pelotas

domingo, 24 de janeiro de 2010

... acho que dessa foi mais difícil. Porque depois desse tempão que você ficou aqui, Nataloka, me sinto um pouco Cabanas, já. E vc também um pouco Neustein, né? Coisa de irmãs. Não é todo mundo que entende isso.
Fica na cabeça não só o rosto cheio de candura dos “meus avós Cabanas” , mas também a coreografia da "Maica" depois de 4 horas e meia de estrada. O jeito carinhoso que a Teresa olhou pra você na praia, várias vezes. Já fica a saudade das conversas metafísicas de sempre, aquelas que passam por Inês Pedrosa, Marieta Severo e Beyoncé. Ou você acha que essa mistureba qualquer um entende? Entende nada. Como é que a gente vai fazer, Natalinda? Voltar para os e-mails quilométricos, né? Você me contando do mundo catalão e eu te pondo a par da mesma lenga lenga de sempre. A gente vai lembrar juntas dos micos, das exposições de grafite, Cinco a seco, la tartine. O chororô de sempre. A peças conceituais: de Antunes filho a Isabelle Huppert. E as histórias? As sorayas e violeteiras. Ah Amiga, que saudade, já. Da mistura de pastelzinho de Belém e galletitas gallegas.
Me escreve contando daí. Do frio e das árvores sem folhas... Do céu anil de Barcelona e das lamparinas da Gran Via. Me conta das expressõezinhas novas que vc aprender. Ah eu vou ficar aqui, né? Na minha ponte diária Vila Madalena- bairro do limão. Vou tomar os choppinhos de final de semana e, prometo, se eu descobrir naquela biografia da Clarice mais alguma safadeza da maga-mestra, vou correndo te contar. E Nata, vou tentar equilibrar minha Hannah Arendt tupiniquim e pegar leve na hora de criticar os vaidosos de plantão. E faltou tanto, ainda... quando você voltar me leva no bazar da Lucy in the sky ? Eu dou um jeito de arranjar ingressos para um desses shows de bandas pernambucanas pra gente. ;)
E Faltou vermos a Fernanda Montenegro, amiga. Vamos?
Boa Viagem Nataloka.
Ariverdecci. ;)
Mazi

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A terapia e a terapeuta

Eu tinha só dezoito anos. Ainda não dirigia, minha vida era colégio, cursinho e teatro. Tinha paranoia com regime, lia Clarice Lispector, adorava mitologia grega e era apaixonada pelo meu vizinho que andava de bicicleta. Foi nesse estado que eu resolvi fazer terapia.
E a Beth- minha terapeuta - era exatamente o que eu imaginava de uma psicanalista: elegante, discreta, calma. Foram 7 anos. Um chororô sem fim naquele divã. E ela, lá. Me entendia. Dizia as coisas com uma delicadeza sem precedentes. Diagnosticou todas as loucurinhas da minha cabeça. E me ajudou, todos os dias, a tirar as pedrinhas dos sapatos. Ser mulher não é fácil. Mas é bonito. Ah Beth, querida.
Beth,
Estranha essa relação que fica restrita a um sofá. Eu sei que em análise a gente deve se conter, racionalizar, é como se fosse um trabalho científico. De dissecar os pensamentos, as angústias, aprender a blindar, a resolver, crescer, enfim. Para mim a terapia foi um processo profundamente revelador sem, no entanto, perder a graça de uma boa conversa. Então foi difícil ter que assumir uma postura tão "não panda"na hora de fechar esse ciclo.
Queria, sei lá, te agradecer. Por todas as segundas feiras chuvosas, pelas manhãs de quinta-feira. E também te dizer que a sua delicadeza é uma sorte. Foi bom poder chorar quando tive vontade. Foi bom saber que tudo bem. Que tudo é tudo bem. Ficar triste, ficar demasiadamente feliz, de ressaca vez ou outra, também. Tudo bem sentir vontade de não ir, ter raiva das pessoas que a gente ama. Tudo bem deixar de gostar de alguém. Ou querer muito ser aceita em algum circunstância. Obrigada Beth, por me ouvir com tanta atenção. Por prestar atenção nos textos e e-mails que eu te li, sessões atras de sessões. Por me ajudar a desvendar meus sonhos. Pelos elogios e puxões de orelha.
Obrigada por abrir meus olhos para meus exageros e mimos, tá?
beijos carinhosos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Natal de Fernando Pessoa

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
A mim ensinou-me tudo.

Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas.
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Esta é a história do meu Menino Jesus.

Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Vamos suspirar e ver as “cousas que há nas flores”?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Top do Ano

* As cinco, em Paris
* Teresa fazendo cara de porquinho.
* Mari Paiva cantando Los Hermanos no caminho da Barra do Una
* Cinco a Seco
* Natalinda colocando abaixo São Paulo inteirinha
* Ronaldão no Corinthians
* RJ virando Barcelona com a Nilds
* O silêncio na chácara do Jockey no show do Radiohead.
* Robert Partisson
* O picin-mexidão do Primo e o amanhecer em Picinguaba.
* Antes de começar o mundo, do Mia Couto
* A cor de esmalte “espelho” da Impala.
* O abraço levemente apertado do Vincent Cassel
* Alma Imoral
* Salada Juliana e Clerico, do Che Barbaro.
* A cara do PP quando me viu chorando para um policial no Guarujá
* A posse do Obama
* Os olhares fofoletos dos avós da Nataly, nas boda de ouro.
* O Rei cantando "Mulher Pequena".
* O programa de judeu, na Carnegie Deli, em NY
* A biografia da Clarice.
* Sonho Bollywoodiano.
* As meninas XoXo.
* O Antídoto no Itaú Cultural
* Apenas o fim.
* Caetano bem pertinho, cantando “quero ver Irene dar sua risada”.
* Alguns quilinhos a menos na balança.
* A assinatura da New Yorker.

sábado, 14 de novembro de 2009

Às vezes eu sonho e é sempre o mesmo sonho. Eu ando por um bairro que parece os invalides, em Paris. Só parece, não é. Meu quintal tem cheiro de Lavanda. E a minha casa é um pouco bagunçada. Mas de uma desordem gostosa. Emcima da geladeira fica um bule vermelho, antigo. Herança das férias em Aiuruoca com minha avó Arlete. E no meu sonho tem aquela luzinha especial, sabe? Você sabe de qual luz eu falo. Aquela meio douradinha que faz uma sombra suave. E não há papéis. Contas, multas, burocracias. Os únicos papéis são os dos bilhetes passados por baixo da porta. As minhas janelas são meio velhas. Custam a fechar e abrir. O ramo de pimenta fica na entrada da cozinha. É um ninho. E eu ando pela vizinhança. Nos cantinhos, memórias saborosas do Brasil : artesanatos de uma viagem para o interior de Pernambuco, farinha de fubá, uma foto do pé da Teresa. Os remédios ficam numa lata antiga, com cara do século passado e o meu vizinho assobia toda vez que me vê: "Cristo redentor, braços abertos sobre a Guanabara...". E eu estou tranquila. Nem muito nem pouco. Calma, só. Com um pouco de saudade, mas calma.
Just how it should be.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Luciana e Vitorio

Ela foi para Buenos Aires com o coração “despetalado” (vocês também cantavam ‘despetalado’ na música O cravo brigou com a rosa? ). Foi para o que elas chamavam de “ a disney das mulheres adultas”. Não é sempre em uma situação dessa que o final da história é feliz. Mulher quando tá triste de amor, custa a sacudir a poeira.
Pois foi. Angustiada, machucada e seeking for love. Os argentinos - nós sabemos - não decepcionam. Mas não foi por um porteño que ela se enamoró, sino por un italiano de Milano. A "morena de angola", que mexe o chocalho na canela, um e setenta e pouco de altura, sorriso que reluz a 8 quilômetros e um charme que me desculpem, só as tupiniquins têm - adentrou uma festinha, no coração da Argentina. Era dia de caminhas longas, de turismo, de lembranças do antigo amor, de cansaço, enfim. Enquanto um rapaz simpático sinalizou que queria conhecer melhor a moçoila, ela fez que não viu. Gostou mesmo de um diferente bigode que, parado na multidão, fez graça para ela.
Foi assim que a Luciana e o Vitorio se conheceram. E alimentam uma paixão dolorida pela distância. E tudo bem. O que é o amor senão perder a rima de lé com cré ?
Ele é amante à moda antiga: abre a porta do carro, segura a bolsa dela, faz todas suas vontades. Ele, gringo louco por caipirinhas de maracujá, deixa ela doida quando vai para a fazenda e a faz andar “dji cavalo”. Ela, cor de jambo, carinhosa é cheia de mumunhas. Sente ternura quando ele fala um português com sotaque carregado. Ri das coisas “afascinaaantes” que ele conta. Chama ele de “Vitto” e leva seu carcamano para cima e para baixo nesse Brasil de Meu Deus.
E estão eles, na mesa do Genial. Vitorio gesticula grande como os italianos dos filmes de Fellini. Pede um “galeto a passarino”, grita pra ela “mi amooor” e faz a exigência : “quero bailar samba”. Ela ri e corrige, delicadamente, as concordâncias verbais dele. Amor de inflamar tendões, de desligar o celular, de se perder nas praias de picinguaba.
Perto disso, atravessar os litorais com doçuras e sussurros de berimbau é só miragem.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

she´s got it

A mais nova descoberta do ano: Oprah.
Fazem alguns dias que, zapeando na TV, pesco o programa da Oprah. E estou encantada com ela. Não foi a primeira vez que eu assisti porque a gente escuta de “uma das mulheres mais poderosas do mundo”. É que, na maioria da vezes, o programa é supermelodramático. Mas sim, ela é poderosa. Esses dias por exemplo, vi o Mike Tyson desabar em lágrimas do lado dela. Vocês imaginam o que é o Mike Tyson? Um cara louco que morde as pessoas, um monstro com uma tatuagem no olho, um homem violento que bate na mulher, um troglodita sem limites, enfim. Ele é um monstro, mas do lado da Oprah, pareceu só um monstrinho. E gente, vamos combinar que fazer o Mikão chorar, não é pra qualquer um, não. Fiquei prestando atenção no jeito que ela tem de criar uma certa intimidade com o entrevistado em cinco minutinhos. Dá um baile nas nossas entrevistadoras de comportamento. Não digo as jornalistas que falam de economia e Nobel de literatura, nem dos programas da tarde, vulgares. Falo das nossas Marilias Gabrielas. Ah Oprah. Como você é fofoleta. tem humor, graça e carisma. Sei que deve ser um louca, uma chefe histérica, centralizadora, excêntrica. Mas a verdade é que ela ri das piadas, pergunta coisas prosaicas, não tem vergonha de parecer burra, tonta. E consegue uma coisa super difícil: faz perguntas provocativas sem ser vulgar. E entra no clima, acho isso o máximo. Enfim, só queria dividir. Prontofalei.

"Que dá medo do medo que dá"

É o que diz a música do Lenine. Sou mega medrosa. E esse vai para os que são como eu, cheios de medinhos.
Do avião na hora que sobe, dos olhares tortos nas esquinas, de assalto, cachorro bravo. Medo de chuva muito forte dessas que alaga a rua, de perder a chave de casa, de comer comida estragada. Medrosa, eu? Imagina. Medo de nunca mais sentir paixonite, de perder o fôlego na hora certa. Medo de não agradar, de ser grossa, desrespeitosa. De quebrar mão, pé, cabeça. Medo de ficar estagnada. Medo dos bêbados que grudam. Dos loucos que acham na gente, aquilo que procuram no universo. Medo de não conseguir nunca ficar quieta, inteira, de não aceitar o que tem. Medo de ser engolida pelas proprias contradições, pelos fantasmitas que visitam em noite de insônia. Medo de não conseguir nunca dizer não. Medo de esse post parecer a Regina Duarte dizendo "tenho medo". Medo de perder o bom-humor, a energia. De esquecer as letras das músicas que estão na ponta da língua. De inveja, doença, morte. Dos mais infantis aos mais psicanalíticos. Da brincadeira do copo, da Convenção das Bruxas, de escorpião e dos escorpianos. De exagerar nas estampas e cores, de ser clichê, superficial. Medo de parecer arrogante. Ou fútil. Infantil, metida. Fofa demais, fofa de menos. Medo de perder o tom das coisas, de deixar escapar pessoas significativas. Medo de machucar quem não merece. De ser arranhada por unhas alheias. Medo de ser dominada pelo ciúme. De descontar na pessoa errada, de se frustrar demais. Medo de desistir, voltar atrás. De não conseguir tomar decisões sérias, de ir no DETRAN, de ficar perdida em bairro desconhecido, de pensar maldades bem maldosas, de andar de bicicleta em SP. Medo de energia ruim, de gente sem caráter. De ser medrosa demais.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mini panda

* Sou baladeira, macumbeira e gosto de saia curta.
* Sorvete de menta choc chip da la basque me deixa com água na boca.
* Minha visão sobre futebol mudou depois que fui assistir o Corinthians e vi penaltis ao vivo num Morumbi lotado.
* Gosto de vermelho e amarelo.
* Nunca consegui fazer uma boa trança nos meus cabelos.
* Já assisti 688475345 vezes o filme A Noviça Rebelde.
* Tenho algumas obveidades: amo chocolate, acho o Jonhy Depp lindo de morrer e adoro ganhar presentes.
* E algumas não obveidades: quebrei a cabeça, mas não consegui pensar em nenhuma.
* O disparo da risada minha sobrinha me emociona.
* A música como 2 e 2 são cinco me dá um apertinho no esôfago.
* Tenho tantos amigos que as pessoas têm inveja e ciúme.
* Tenho ciúme de quem me testa.
* Tenho inveja de quem não sente culpa.
* Uma confissão? As vezes me sinto muito boba

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Playing For Change


O projeto é lindo demais.
Mark Johnson começou a reunir, há quatro anos, materiais de diversos músicos que tocam pelas ruas do mundo. Deu nisso. Uma mistura fina com pitada de “ONU”. O mote? conectar pessoas por meio da música.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

we´ll have ...

... se o Arnaldão não é nada saudosista, sorte a dele. Acho que eu sou um nani. Não é assim... um saudosiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiismo, mas sofro de uma nostalgia melancólica, as vezes.
Ontem, por exemplo, tive que voltar à faculdade para buscar meu famigerado diploma. Achei que ia ser indolor e tal. Mas dá? Quem tem olho voltado para fora, é um caminho sem volta. Seria bom passar imune à algumas coisas.
***
Chegando à Pontifícia, a avalanche. Os olhinhos atentos não deixaram passar nadinha de nada.
A PUC não é mais a mesma. As casinhas antigas das redondezas e fundos de quintas usados como estacionamentos pelos flanelinhas, deram lugar a uma Amor aos Pedaços apoteótica e um mini complexo de conveniências. Bem American Way. Mas pera lá. A PUC é tudo, menos conveniente. Ter uma Amor aos Pedaços na rua detrás é quase uma afronta ideológica. A PUC é sujinha, é low-profile, é hippie... é uma delícia! Minha mini angústia aumentou quando, na hora de buscar o diploma, não demorou mais do que... 5 minutinhos. Opa, opa! Aquela universidade é tudo menos rápida. As coisas são feitas a mão, tudo demora, são trocentas burocracias... Mas agora mudou, até senha eletrônica tem na secretaria. Primeiro Mundo, pessoal. Poxa, não faz tanto tempo assim que eu saí, para eles aprenderem a fazer as coisas "direito"... Azeitona.
Já resignada, fui andando por aqueles corredores e de repente, em meio a tempestade, veio. A PUC que eu conheço. Junto com ela, minha mininostalgia. Descendo a rampa vejo um cartaz: "Ato na praça da cruz, amanhã. Contra a proibição na PUC". Ahhh home, sweet home. O povo das artes do corpo está lá, jogado no chão do quinto andar, depois da aula de massagem. O prédio continua velho, as meninas estão de saias rodadas, flores no cabelo e bijuterias compradas em Caraíva. Falam com gírias de psico-puc e combinam de ir no forró. Sim, forró. Os meninos, com jeitinho de Bronx ,se misturam aos terninhos e gravatas dos mini advogados. Na porta do xerox, um cartaz pintado a mão: "FESTA OPEN BAR - compre os convites aqui". E o fulano no violão arranha o eterno reggae. O pão de queijo ainda é gostoso e a CONFIL tá lá, igualzinha. Rastafáris espalhados pelo pátio, um CA caindo aos pedaços e ele... o professor vagando por ali.
***
Já com diploma em mãos, cabelos arrepiados com a chuva e a sensação de pós azeitona. É, um sentimento de alívio apareceu. Foi a certeza de que foi muito gostoso. Tudo. E que querer postergar isso, é bobagem. Porque o que a gente tenta levar, bem sei, não dá certo.
E ah... um pouquinho de saudade não faz mal pra ninguém sentir.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sonho Bollywoodiano



No Estadão.
Nada de nepotismo, tá gente.
Beijos

terça-feira, 15 de setembro de 2009


Querida Natalinda,
Ontem entrevistei o Arnaldão.
Foi no escritório dele, pertinho da Fnac. Estava chovendo, era no meio da manhã - quase nunca tenho pautas de manhã, por causa do fechamento - e eu estava atordoada com celular, gravador etc e tal. Mas sabe aquele lugar que te é familiar, por alguma razão? Foi isso. Então enquanto eu falava com a assessora dele e, ao mesmo tempo, ligava para o fotógrafo, já fui entrando na cozinha ( Oi Marilia, folga?), me servindo de café, quando ele apareceu.
É engraçado esse negócio de falar com pessoas assim, tão evidentes. Dá uma sensação tão doida. Sei lá, parece que eu já conheço o Arnaldo Antunes, sabe? É como se eu tivesse sentado com ele, Marisa e Carlinhos juntos - nos tribalistas naquele clima ‘lá em casa’. Parece que, por alguma razão, eu entendo a amizade que ele mantém com os Titãs até hoje. Mas te confesso Nata, tava meio insegurinha com essa entrevista. Não sei se é aquela voz grossa dele que me assusta ou o fato de eu gostar das letras admirar o trabalho... sei lá. A gente sempre precisa do colo jornalístico, né?
Pilulinhas pandísticas à parte, logo que sentamos na sala, cheia de quadros dos tempos de titã, discos de platina (lembra deles?) e cacarecos ... a coisa fluiu. Logo adotei a postura “mesmo com essa cara de menina, sou repórter”. E sabe Nata, apesar do vozeirão, ele é bem sorridente. E inteligente, né? Falou de arte sem a menor postura pedante. Adoro. Como diria a minha chefe: “A Marilia volta das entrevistas sempre com essa cara de satisfação”. Fazer o quê, sou filha da minha mãe que sempre se disse uma ‘maria -sem-vergonha’ : só precisa de um pouco de luz pra sair brotando por aí. That´s me.
Achei uma graça que ele, com toda a pinta de poeta concreto e rockeiro, faz um monte de coisas para os filhos. Além do CD “pequeno cidadão”, escreveu um livro só com as frases filosóficas do filho, quando tinha 3 aninhos. Gente, dá pra aguentar?
Aí, falando do Cd Novo, iêiêiê, que ele me confessou. Tem uma música que ele escreveu pra vc, Nata. Foi depois de um papo que vcs tiveram, em pleno Born, num verão catalão. Ele me disse: “conversei com a Nataly sobre essa coisa de ir embora, se sentir distante, fora ... aí nasceu a canção longe”. Contei pra ele que vc tava em SP – por pouco tempo – e ele te mandou um beijo enorme. Falou até para gente combinar de tomar um suco no Açaí novo que tem ali na Natingui, vc topa? Sabe cumé, né amiga, é morador da Vila Madalena, difícil arredar o pé de lá ...
Besote grande,
Mazi

sexta-feira, 11 de setembro de 2009


Tereca Pipoca,
Você cura qualquer mal-humor. Ontem quando eu passei na sua casa, depois de horas de trânsito, compromissos chatos, cansaço do trabalho... tudo ficou colorido quando você me apareceu com suas bolinhas turquesa.
Com seus dois dentinhos de leite, já percebe todos os movimentos dos adultos. Elege os colos, já sabe do seu poder e abusa dele quando dá tchauzinho. Desculpa se eu apertei demais a sua bochecha, tá? Mas ontem você me deu aquele olhar de aceitação. E eu ganhei o dia, minha sobrinha amada.
De vez enquando encontro ali, algumas coisas do Fe, outras da Cacá. Mas pouco ... porque você já sabe que tem o seu jeitinho, um jeito de olhar especial.
Obrigada de novo, Titi.

terça-feira, 8 de setembro de 2009



Olha, a gente pode até ser melhor do que eles no futebol, pero...

Dica da nilds!

Emiliano Castro

Entre a faculdade de Ciências Sociais e as aulas de percepção musical que ministra, um olhar sensível sobre a música e a arte foi o ganho desse violonista de 7 cordas. Além da experiência, é claro. “Nunca tive o perfil autodidata, fui muito orientado”, define ele. Como professor, acredita no “eixo entre pensar e fazer música”. E não é à toa. Emiliano, que passou parte da infância em Moçambique sob influência de ritmos africanos, também morou na Espanha, onde se especializou em flamenco – para ele, “a experiência mundial mais forte no violão”. Agora, de volta à casa, apresenta-se sexta-feira, no Auditório do Ibirapuera, dentro do projeto Caldeira Acústica

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mulher Pequena

"Ah, nada de anormal, mas ela vai ser assim, mignon mesmo”
Lembro direitinho das palavras do médico, depois de eu fazer exames, quando tinha 13 anos para saber se seria “baixinha” para sempre.
Minha esperança era o tal do estirão. Afinal, as meninas da minha classe já eram bem maiores do que eu. Mas não teve jeito, nem estirão, nem comendo muita proteína. Nunca consegui me livrar dos meus 1,55. Tampouco queria ser a Ana Hickmann. Mas assim, 10 cm a mais... não faria mal nenhum.
Que fique claro... não é assim, RUIM. Mas que dá uma invejinha (branca) das mulheres altas, esguias, cheias de pose - isso dá.
Tem o lado prático que é meio complicado, na verdade.
1-Banco do carro- Por mais que eu levante no máximo, não consigo enxergar os buracos.
2- Shows - No do Radiohead, por exemplo, fizeram um telão cubista conceitual. Ou seja, zero de solidariedade com quem necessita do telão para VER, ora bolas.
3- Barra da calça - SONHO com o dia que eu possa vestir uma calça e sair saltitante por aí, sem ter que deixar para fazer a barra, pagar, ir buscar... é uma funça, minha gente.
4- Quilinhos a mais - um PESADELO. Se uma mulher alta engorda 1 ou 2 quilinhos, passa despercebido. Agora uma baixinha...
5- Ser levada a sério - Só porque somos peques, não significa que somos infantis.
6- Os lugares comuns - Para citar dois: “toda baixinha é invocada” e “é nos menores frascos que estão os melhores perfumes E PIORES VENENOS”. É mole?
“ Ah... mas mulher baixinha tem seu charme” me dirão, alguns. Hum. Será ? Talvez.
Mas gosto de ser a única ‘peque’ da minha patota. Tirando a Nilds, claro. Ainda ganho em alguns centímetros, apesar dela negar. Gosto também da ternura que a gente provoca nas pessoas, vez ou outra, simplesmente por ser um pouco mais compacta.
Mas feliz e orgulhosa mesmo... só sexta-feira passada no show do Roberto Carlos, quando ele cantou pra gente. Pequenas, uni-vos
Vai Rei!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Tulipa Ruiz

Ela foi uma das minhas primeiras “ caras - novas”. Tudo começou quando assisti a um show da Tulipa - totalmente low profile, há uns dois anos, no “cedo e sentado” do Studio Sp. Subiu no palco, toda charmosa e se divertiu horrores cantando. Eu adorei e, na hora, já pensei em fazer uma pauta para o jornal.
E a menina-flor foi alçando voo. Canta, compõe, ilustra e é toda cheia de graça. A última vez que fui num show, há alguns meses, achei muito buni, ela homenageado a avó, que estava na plateia. Embrulha.
Agora, florzinha Tulipa, todo mundo quer o seu CD. As pessoas perguntam, descascam o seu myspace inteirinho em busca da sua voz. Avisa a gente tá?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sobrançaria

Se é verdade que toda aluna, em algum momento, se encanta por um professor, eu não sei. Mas eu tive o meu.
Foi desde o primeiro dia de aula. Quando ele começou apresentando Guimarães Rosa, Machado de Assis e Lima Barreto. Só contos ou capítulos. Lembro direitinho disso. Ia relacionando os textos com a “realidade” – suposto objeto de estudo do jornalista.
Era categórico, aquele professor, todo cheio de soberba. Mas não era essa a sua graça, ou bom, tá, talvez um pouco. Mas ele tinha um quê de normal, sabe?
Disse, numa aula, todo metido e sem muita abertura para questionamentos, que o Chico Buarque era “o último compositor de herança literária”. Eu achava bonito como ele dava um jeito de fazer referências aos sentimentos.
Ele ria em aula. E tinha uma ironia suave que me irritava e me deixava admirada.
E aí, teve um dia que ele veio com essa, do significado de sobrançaria. “É superar o outro de uma boa maneira”, definiu. Bingo! Era isso. Não estava apaixonada, não era amor platônico nem nada dessas baboseiras, o que eu queria, era “sobrançar” ele, de alguma maneira. Queria ser mais sensível, mais instigante e misteriosa do que o professor. Tonta né ? Porque todas as vezes que eu fui lá, cheia de coragem e segurança, ele delicadamente me colocou no lugar de aluna.
Bom professor, aquele. Que tinha um tom de voz sereno e intimista. Não era muito alto, nem muito baixo. Usava óculos e esboçava uma futura carequinha. Tinha um brinco na orelha, estilo anos 80 e era são paulino roxo.
Os meninos, claro, ficavam enciumados. Mas como eu, sabiam que não dava para competir. “O cara é bom, gente” eu defendia. Mas não tinha jeito, homem quando dá pra ter inveja , é pior do que mulher. “Ele é arrogante, metido e presunçoso”.... alguns mais sensatos colocavam de outra maneira :“ Ele é ótimo professor, mas faz questão de se mostrar para as menininhas”. Eu sabia de tudo. Como ele dava uma atenção especial às mulheres ( mas era uma delas, fazer o quê), como ostentava seu conhecimento sobre as coisas ( mas isso gerava uma raiva mesclada com admiração) e como era implicante com alguns alunos ( mas isso só fazia dele diferente).
Numa prova, escrevi uma frase de Guimarães Rosa. “Minha porta é para o Nascente”. Ele sublinhou e escreveu em vermelho: “Bonito”.
Mas bonito, mesmo, foi quando, falando sobre solidão, ele leu o poema “só” de Manuel Bandeira

Poema só para Jaime Ovalle
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro (Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia. Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei, Bebi o café que eu mesmo preparei.
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro efiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheresque amei.

“Existe coisa mais só do que beber o café que você mesmo preparou?” Perguntou. ele.
Não, professor, não.
Anos depois, trombei com ele, no meio da rua. Sem apagador, giz ou soberba alguma. Estava calmo, olhando de igual para igual, com a mesma risada irônica. E mesmo sem eu saber, ele já tinha notado: estava ali, uma tímida sobrançaria.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Gregório Graziosi

Com só 24 anos e 4 curta-metragens no currículo, o cineasta já viajou para todos os cantos, em festivais cinema. Influenciado pelas artes plásticas, Gregório apresenta no Festival de Curtas , quarta-feira, na Cinemateca, seu mais novo trabalho, Mira. Baseado nas obras da artista Mira Schendel, ele “ quis juntar o aspecto delicado e a estética do vazio, presente no trabalho dela”.

sábado, 22 de agosto de 2009

MONOTEMA

"Levando em conta que o ser humano é a tensão entre a preservação e a transgressão, entre corpo e a alma, duas formas profundas de desvios podem ocorrer : o apego e a traição. O apego fere a alma da mesma forma que a traição fere o corpo. Ambas as exarcebações ou desequilíbrios geram violências. A violência à alma é contra a própria vida, e responde pela depressão; ao corpo por sua vez, se expressa contra o mundo externo, no ódio e na vingança.
O apego ameaça e violenta a integridade de um ser humano da mesma maneira que uma traição. Não existe experiência de traição que não venha acompanhada da de apego. Na verdade, é nessa dinâmica que devemos manter nossa atenção. Quando um indivíduo ou mesmo indivíduos que mantêm relações afetivas fazem movimentos trangressivos movidos pela alma, são imediatamente confrontados com movimentos de apego pelo corpo."

Nilton Bonder, A Alma Imoral.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Mudou, ponto.

Queria medir a quantidade de mudança de uma pessoa. Em quilos, litros, kilômetros. A dizer ... “ fulana ganhou 3 kilos de sabedoria”. Ou então, “ciclano perdeu 8 litros de bons pensamentos”. Seria tão melhor. Poder mensurar a dimensão de uma mudança. Assim, saberia lidar com elas. Sei lá, dependendo do tamanho, nem tentaria convencer alguém a voltar para trás. Ou se fosse uma mudança - para melhor- razoavelmente pequena, já daria para comemorar, sem esperar crescer muito.
Mas o que a gente faz com o famoso : “ Tal pessoa mudou muito” ?
Queria poder guardar as mudanças em gavetas certas, etiquetadas: 1984 : o ano do nascimento. 1998 : o primeiro amor, 2001: a briga que dividiu águas, 2004: ano da liberdade... e por aí vai. Mas a gente esquece, encaixa as mudanças e inventa o que quer lembrar.
E o que a gente faz com o clichê: “Eu mudei, é só isso.”?
Queria registrar a cabeça das pessoas - como em fotografias. Para depois poder colocar lado a lado o ‘antes’ e o ‘depois’. Comparar os traços, as caretices, as novas feições de ideias.
Ficaria tão mais fácil . Aceitar os pequenos egoísmos, as canastrices, a falta de vivacidade, que ás vezes, toma conta das pessoas que a gente gosta.
Queria um cata-vento para assoprar para longe, os maus agouros e as saudades dos antigos verões quentes. A gente não percebe, mas nada é de um dia para o outro. São câmbios que envolvem a gente como um lençol sedoso, indefinido.
Queria me convencer que há coisas que só são bonitas depois de amarelecidas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

SOU CONTRA A LEI ANTIFUMO

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Alma Imoral

Fui com a Paulinha, minha pandoca de cachinhos dourados, assistir a peça Alma Imoral, semana passada. Escutei tantas coisas boas da peça que fiquei curiosa.
Ela - Clarice Niskier - entra no palco. Se apresenta de um jeito bem panda, ainda com as luzes acesas. Conta como resolveu montar a peça, porque, onde, quando.
Entre o disparo de 89247836527634 pensamentos e os sentimentos compartilhados com a Paulinha, existiu um espaço para o céu. É, o céu. Aquele céu, mesmo. Eu entendi tudo. O que é traição e o que é tradição. Entendi a “judia budista” que existe dentro dela e de mim também. Assim como os tropeços, os erros, essas bobagens tão insuportavelmente gostosas que a gente faz por aí.
Ah. Como pode, né? As pequenas epifanias, as ternuras terrestres, os beijos sujos, as mãos na cintura, as risadas de criança. Tudo isso permeado de parábolas do velho testamento. E não assusta, porque se tem uma coisa que a nossa geração não pode ouvir falar, é religião. Mas não é cafona. Não mesmo. Putacoisalinda.
Aí, no meio desse melange completo, lembrei de uma crônica do Paulo Mendes Campos que eu adoro, “Acorrentados”. Apesar do nome ser meio pesadão, na verdade ele destila suas palavras sobre as coisas mais BUNIS às quais ele se sente 'acorrentado'. E isso não tem a ver com homem, mulher, casa, cachorro, bens. Ele fala de coisas - aparentemente banais- mas que dizem dela - da tal da alma. Aquele sentimento de supercalifragilisticexpialidocious, que as vezes, dá na gente.
É isso, minha gente. Coisas de panda, de gente que como diria o cronista. "são presidiários da ternura e andarão por toda a parte acorrentados, atados aos pequenos amores da armadilha terrestre".

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pola

Lembro quando a gente entrou no carro, as duas, cada uma com um bico de 8 km. Os primeiros quarteirões em silêncio, até que a gente começasse a discussão esdrúxula sobre a hora de ir embora do churrasco, a carona e qualquer outra coisa sem nexo. Argumentos descabidos, gestos exagerados, gritos, choros e ... abraços. Em outra ocasião, nós duas - no amanhecer da formatura - flores nas mãos, olhos borrados, pés de sapatos jogados no carro e colos desconhecidos. Ela ali, fazendo graça, procurando o caminho de casa.
Pola amada. Amiga querida que vai embora - para ser a maior repórter desse país. E eu - panda que sou - sei que ela tem que ir, alçar seu voo, colocar toda a agilidade, inteligência e OLHOS AZUIS ( ela vai me matar, mas o blog é meu e eu escrevo o que eu quiser), em rede nacional. Mas meu lado egoístinha fica azeitona que ela não vai estar aqui, pertinho de mim, o tempo todo. VOU MORRER DE SAUDADES. Saudade desse jeito dela de embarcar nas coisas ... dançar com a Lu Seleme, rir das piadas do Planet. Vou sentir falta da cara que ela me faz quando conto minhas peripércias diárias. E o jeito direto e objetivo de dizer as coisas. Não vou me aguentar de saudades das ligações no meio da tarde, reivindicando atenção. Nórdica linda, que usa chapéu de praia e canta “hoje acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado...”. Destemida e corajosa, essa Pola.
Me diz, Bonelli, quem vai topar fazer comigo um regime fictício “não bebo cerveja porque engorda. Agora só (8) caipirinhas ?” Quem vai me passar notinhas embriagadas e puxar minha orelha quando eu estiver sendo muito manhosa no meu blog-bobo? E me acompanhar no sambão da praça Roosevelt em pleno sábado a tarde? Fazer um scheadle de guerra para assistir TODAS as mesas da flip e demorar 78 minutos para passar rímel nos olhos ? Ah Pooooooooola. Vai se preparando, que eu vou passar o reveillon lá com você. Vou me aboletar na sua casa, a gente vai acender velas para Oxum, jogar brincos para Iemanjá e cantar cantos de Oxalá.
Olha, desculpa do dia da carona no churrasco do PP, viu? Quando eu for te visitar, prometo que vamos embora na HORA QUE VOCÊ QUISER.
E mais... vou deixar você levar aquela minha blusa florida de alcinha - que fica bem melhor em você do que em mim - assim você também não se esquece dessa sua amiga atrapalhada mas que te ama, tá?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Trocito de pan

Acabei de ler que o Rafael Nadal deu uma pirada com uns lances de injeções para dores no joelho. Então vou postar aqui, minha cartinha pra ele.
Querido Rafa Nadal ( acho lindo que na Espanha eles chamam ele de ‘Rafa’),
Não precisa se entupir de remédios para o joelho. Isso faz mal para o corpo e para cabeça. Por isso, acho que você tem que vir logo para cá, para a Mazolinha aqui, cuidar de você. Prometo, RAFA, que te levo para Búzios, para comer aquelas coisas que vc adora, mergulhar naquele mar azulzinho, tomar muita água de coco e ficar bem.
Sabe? Chega dessa paranóia, amor. Você é novinho, lindinho, buena onda, não precisa ficar se acabando assim. Essa coisa de esportista desequilibrado anda meio demodê. A moda agora é saúde total. Não viu aquela nadadadora americana, Dara Torres? 42 anos, inteiríssima, sem nunca ter tomado um doppinzinho...
Então, basta de las inyecciones. Você vai ver, mi trocito de pan. Faz isso: tira férias, vem logo, a gente liga para o PP e para a Fe e vamos todos no jogo do timão. Vc vai adorar. Depois a gente pode ir andar de bike na Baleia. Que te parece, cariño?
Aí, te largo com os meninos para vocês jogarem taco, porque também não agüento tanta atividade assim.
Mas fica sussa, amor. Vou estar te esperando, tá?
Besitos,
tuya Marilia

terça-feira, 28 de julho de 2009

Dois minutos. Eu já contei, inúmeras vezes. São dois minutos. Esse é o tempo que demorava para ele virar minha cabeça para baixo. Assim mesmo, papum. Dois minutinhos e beijo- tchau: adeus à Marilia com consciência. Hoje, as coisas são diferentes, demoram 5 minutos. - BRINCADEIRA.
Não tem mais essa história. Acabou o fôlego.
Será que a gente vai deixando a ingenuidade pelo caminho, como diria a Kiru? E até que ponto isso é bom pra gente ?
Eu tinha a sensação de que ele era uma frase - daquelas que estão na ponta da língua - mas que a gente não consegue escrever. Estar perto dele, era andar por uma casa sem nenhum ângulo reto, “torre traçada por Gaudí” - como diria Caetano.
Hoje, tenho um pouco de nostalgia, até. Fico perdida nas pedras invisíveis que eu já taquei nele, nas ressacas de noite mal bebidas e cheias de “choro - canção”. Se tudo fosse lindo e linear, não existiria arte e os analistas estariam desempregados. Pois é. Ás vezes, me visita a esquisitice dessa relação tão espessa e trandescendente. Um cd gravado, a declaração roubada depois de um dia de sol: "você está tão linda, vermelhinha assim...", a estupidez cheia de graça, até na hora de cozinhar um miojo. Pensava na risada dele, ou em como ele ficava desconcertado quando eu estava triste - menino mimado que não foi criado para tristezas. E dois minutos depois, lá estava eu, rindo á toa. Demorava dois minutos.
As meninas achavam ele uma extravagância incoveniente. Uma afronta minha à inteligência. Eu expliquei que ele tinha um não-sei-quê de anjo torto, uma fraqueza ancorada, que me comovia. Aliás, que me comove. Porque difícil é sobreviver a um sentimento que não murcha.
Hoje, acabou o fôlego. Passam dois, dez, 150 minutos e a minha cabeça fica no lugar. Ou quase no lugar. Porque, mesmo inteira, nunca consigo me desviar dele sem olhar com ternura e, claro, um pouco de saudade.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Monsieur Cassel

Querida Natalinda,
Ontem entrevistei o Vincent Cassel. Foi lá no Renaissance, coisa chique. Pãozinho de queijo, café, brigadeiro. Nunca vi coisa igual. Eu já estava com meus aparatos jornalísticos ( gravador digital, gravador analógico, bloquinho 1 e bloquinho2), quando ele entrou na sala com aqueles dois olhos azuis indecentes. Dei uma risada meio sem graça, mas te confesso que eu caprichei no visual. Vestidinho de lã, cabelo solto, batonzinho discreto. Não é todo dia que isso acontece, né amiga? Ele foi simpaticíssimo. Até demais. Conversamos - em português - sobre o Brasil, quelque chose exotic, falamos da política de imigração da França e do filme dele, Á deriva.
Ai... e como os franceses são inteligentes... Nossasinhora! A gente riu, eu ensinei ele a falar a palavra laicismo e ele ficou feliz com meus elogios.
Bom, depois de algum tempo de conversa, eu já perdi as estribeiras diante do bonitão. O senso critíco nessas horas, passa longe. Foi quando ele me contou que está com um projeto de fazer uma comédia romântica no Brasil, com a mulher dele, a Mônica Belucci. “Eu queria mesmo era trazer aquela menina trés jolie, Nataly de Barcelona, mas ela não quer vir”. Eu pensei comigo: “como assim, não quer fazer o filme com ele!!!” Mas expliquei que vc tava aí, com seus projetos, que tinha muita água rolando e que era isso mesmo. Vc não é atriz pra qualquer projeto nananinanãaaaaao. Tá pensando que minha amiga faz o primeiro filme que aparecer ??? Ele entendeu mas me pareceu frustrado. Aí foi me dando uma ternura, Nata. E eu comecei achar que tava rolando um clima entre eu e o pardeolhosazuisindecentes, ainda mais quando ele falou que o “natural do homem é não ser monogâmico” - ah tá, Meu Bem. Imagina se a Belucci fica sabendo disso.
Allors, prometi pra ele que ia tentar te convencer. Então, faz as malas, amiga. Vem pra cá, filmar no rio, nãoqueronemsaber.
Na hora de ir embora, mandei logo um : “Tchau VICENTE”. Ele gargalhou.
Coisa de nena, Nata.
Vem que eu to com saudade.
Bisou, Mazi

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Amanhã, ele faz 91 anos

" Quando a gente se liberta dos nossos medos, nossa presença automaticamente liberta os outros"

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Caê

* "Doce japonês é sempre assim, né? Tem gosto de feijão e é tudo rosinha claro"
* "Eu só moraria em duas cidades: Nova York e Madrid"
* "Eu to triste. Mas são coisas íntimas, pessoais. E sobre isso, não se fala"
* "Eu era muito jovem quando escrevi Coração vagabundo"


Essas são frases do nosso Caetano Emanuel Viana Teles Velloso, no filme Coração Vagabundo. Fernando Andrade fez tudo direitinho. Registrou um lado tão buni do tropicalista hipongão. Que delícia ver o Caetanão ali... ouvir ele contar os causos. Aquele ritmo baiano de quem morou - até os 18 anos - em Santo Amaro da Purificação. Sorriso fácil, de graça. Charme natural - sem a menor canastrice. Só podia ser, né gente? Quem escreve “O quereres” não deve mais nada para o mundo. E ainda soma: tem uma pitada de humor . Só erra quando começa a se levar a sério- porque quando brinca de Caetano, é uma delícia. O Almodóvar que disse que ouvir Caetano o deixa de “pelos de punta”. Si, Pedrito, pelos de punta. É que é filho de Oxóssi, o moço. Olha pra beleza do mundo e sabe valorizar tudo que é bonito - por meio das palavras. Fico aqui sempre falando do Francisco e quase nunca do Caetano. Eu sei. São coisas totalmente diferentes e existe espaço para os dois, nos nossos corações. Mas é que, por maior que fosse minha admiração ao Caetano, sempre tive um pouco de ressalva com o lado “provocador” dele. Me cansa. Mas o jeitão “mitificado” do Franciscão na Flip, me cansou um pouco, também. E o Caetanão tava super lá no meio da pipoca ontem. Não teve gritaria, arranca-cabelos e nem crises de fãs. Algumas fotos, uma ou outra tiete, tudo normal. E ele ali. Devagar, disponível, inteiro. O Leãozinho entrando pelos sete buracos das nossas cabeças. Com toda sua presença.

domingo, 12 de julho de 2009

Futuro

* Fazer o caminho de Santiago de Compostela.
* Aprender a fazer bombons como a minha vó Arlete.
* Comprar uma gravura da Tomie.
* Entrevistar o Woody Allen.
* Encontrar aquela carta.
* Pintar minhas próprias unhas.
* Ir para o Machu Picchu.
* Ganhar uma piscadela do Francisco.
* Comer brigadeiro sem culpa.
* Ter uma lambreta amarelinha.
* Abraçar o Obamão.
* Beber sagria com a Nata em Barcelona.
* Waltinho: você não me escapa.
* Aprender a dançar Tango.
* Ganhar uma dedicatória afetuosa.
* Ele, aqui do meu lado.
* Conhecer Israel.
* Ir num show da Tracy Chapman.
* Aprender alemão.
* Plantar tulipas.
* Visitar o Schopen no Canadá.
* Ir para Cuba.
* Aprender a ler as mãos.
* Fazer um documentário.
* Lutar boxe.
* Conhecer uma tribo indígena de perto.
* Voltar para Sevilla.
* Fazer faculdade de psicologia.
* Começar a entender de arquitetura.
* Roubar um elogio inesperado.
* Conhecer o Tibet.
* Perder o medo de andar de bicicleta em sp.
* Ver a Fernanda Montenegro no palco.
* Aprender a fazer comida judaica.
* Morar na Argentina.
* Encontar um mestre intelectual.
* Velejar em Ubatuba.
* Estudar história.
* Visitar uma fábrica de perfume na Provance.
* Segurar o buquê da Cutait no altar.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Paratations - parte I

Querida Natalinda,
Paraty estava mais vazia esse ano. Choveu um pouco, é verdade. Mas também faltavam pessoas importantes. E não fui só eu quem notou, não. O mexicano Mario Bellatin já veio me perguntando: “E a Nataly, não virá? Me disseram que ela vinha”. Eu falei pra ele, que era tudo culpa do povo da Cosac , aqueles meninos irremediáveis... vc conhece como eles são, né Nata. Falaram para o escritor doidão que você ia, aí ele ficou todo na expectativa de “conocer esa chica tan llena de cualidades”.
Mas não parou por aí, não. Eu expliquei várias vezes para o Mr. Talease o motivo da sua ausência, que vc morava fora, que era muito caro vir para cá... mas nada contentou o abuelito, ele queria porque queria ver você. Sabe que ele contou que guarda todas as cartas que trocou com a mulher, em 50 anos de casamento É... disse que além das cartas, guarda junto os motivos das discussões e o jeito que se reconciliaram. Fofo, né? Coitada dela, que teve que aguentar as maluquices dele a vida inteira. Se bem que, pelo que me pareceu, ele amaciou essas loucuras com muita doçura.
E por falar em doçura, o Lobo Antunes foi um fofoleto. Eu tava quietinha comendo num restaurante, ele veio e me perguntou se não era eu, a amiga da Nataly, neta de uma grande amiga dele. Ahhhh Nata, ele me contou histórias tão lindas dos tempos em que conhecia sua avó em Portugal. Me deu uma vontade de ir pra lá... e ele disse que receberia a gente numa boa. Que te parece, amiga? Depois que vc voltar da Galícia, passamos pra ver Lobo bom ?
De repente, a gente pode também passar pela França e visitar a doidinha da Sophie Calle. Ela me contou que quer ir pra Índia- você pode dar umas dicas para ela, que está pensando em fazer um dos projetos de arte por lá. Mas só ela, tá? Porque o ex, Gregóire, eu dispenso, muito safado, aquele fulano.
Sedutor por sedutor, preferi o afegão Atiq Rahimi, que olhou com um olhão azul pra mim... bem fundo. Olhos lindos os dele, né Nata? E olha que ele estava ultra aborrecido com a sua falta. Parece que ele te conheceu aquela vez, em Paris, lembra? Mas pode deixar, que eu te defendi tá?
De resto, Paraty segue com aquele cheirinho de serra do mar, que eu sei, você morre de saudade. O céu continua estrelado, as crianças gritam sem parar naquela flipinha e ano vem, não tem desculpa. Queremos vc aqui, viu?
Beijocas
Mazi

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O teatro da liberdade



Existem coisas que emocionam a gente. De verdade. Tiram o ar, mostram significado, acontecem. E todos os anos, no Antídoto - que acontece no Itaú Cultural- tem um desses personagens que me arranca um pedaço da alma.
Ontem assisti Adnan Nagnagie contar um pouco do trabalho do "Teatro da Liberdade", que ele desenvolve com adolescentes lá na Palestina. Assistir o vídeo dos sonhos desses jovens, tão genuínos, me deixou em silêncio. Um pouco, por vergonha da minha falta de informação. Outro pouco, por um fio de qualquer coisa que se acendeu nos meus pensamentos.
Take a look

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Suspiro do mundo

Maricota e Gabriel,
Talvez essa carta fique meio grandinha. É que apesar de a gente não se encontrar muito, bem sei que o nosso mundo é movido a afeto. Então um pouquinho a mais de babação de ovo não faz mal a ninguém, certo?
Eram um pouco mais de nove horas quando eu entrei no corredor florido do Jockey. Meu telefone não parava de tocar porque dia 30 de maio é o meu aniversário. Desliguei o infernal aparelhinho depois da ligação mais esperada do dia. E, ainda esmagadinha entre cabecinhas e cabeções curiosos e emocionados , tentei - inutilmente, enxergar com meus singelos 1,55 de altura, a cerimônia. Ver mesmo, não vi. Mas arrepiei quando "carinhoso" começou a tocar. Depois Má, vc apareceu. De vestido romântico, olhos ainda lacrimejantes e o sorrisão na cara. Linda. Não aguentei quando vc abraçou a Kika - que estava do meu lado - e disse com um tom de ' vc tem que fazer isso' : "Ai Kika!!! É muito legal". Aí fiquei aqui, quebrando a minha cabeça, para achar alguma coisa que pudesse traduzir - um nani que fosse- do que estava pairando ali no ar. Lembrei da Lispector, que dizia sobre uma sensação de "suspiro do mundo". Eu adoro essa expressão, não é ótima? Tipo assim: “tava andando na rua, pleno por do sol, quando senti o suspiro do mundo”. Ou então: “aí quando abri meu presente veio aquela sensação de suspiro do mundo’ ou ainda: “aí quando vi a Maria e o Gabriel rindo juntos veio - o suspiro do mundo”. Aquela coisa de preenchimento mesmo. E ó, não fui só eu não, viu? Todos comentaram. A Marininha, coitada - até passou mal, de tanta emoção. Coisa assim, gente, só sendo muito de verdade.
Quando eu fazia teatro, meu diretor sempre me dizia: " se vc se diverte, o público se diverte". Verdade mais pura. Se vcs vissem a carinha das pessoas quando vcs começaram a dançar, fofoletos, "Que maravilha". Rodando no "a girar". Cheios de graça, de charme. Rindo e o riso sendo a música perfeita. E tudo isso, só pra deixar meu beijo carinhoso para vcs. E o desejo de que vcs, encontrem no dia-a-dia, a leveza dos passinhos de dança que vcs improvisaram tão delicadamente naquela pista
beijos
Mazinha

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Do time das pandas

Querida Natalinda,
Na sexta-feira, entrevistei a Andréa Beltrão. Foi lá no Teatro da Fecomércio, onde ela está em cartaz , junto com a Marieta Severo, com a peça As Centenárias. Ela chegou atrasada, mas sem perder a compostura e nem a simpatia. Foi até o camarim “para dar um jeitinho nas olheiras” e, logo que sentou no palco, tive que perguntar : “Andréa, vc conheceu a Nataly, né?”. Ela ficou toda entusiasmada quando soube que a gente era amiga, me contou a história inteirinha de quando conheceu você, da última vez que foi para Barcelona. Parece que chovia muito, ela estava com os três filhos trancafiados no hotel, quando resolveu levá-los ao teatro. E pimba. Os pequenos se apaixonaram por uma princesa que estava no palco - no caso, vc. Ah Nata, vc precisava ver a carinha dela, quando eu falei que a gente era super amiga. Ela disse: “Ah, tipo eu e a Marieta, né? Já virou família”. É Andréa, já virou família. Ela aliás, me pediu o seu e-mail . Eu dei, tá? Dei porque ela panda, Natalinda. Panda assim, de verdade. Quando eu perguntei se ela tinha algum medo, sabe o que ela me respondeu? Que não tem medo que nada aconteça com ela, “mas com meus filhos, amigos, pessoas que eu amo”. Embrulha. Espirituosa e engraçada é séria na hora de responder as perguntas, sempre com uma pequena pausa. E se coloca, sem perder o ar de ‘poço de afeto’. Impressionante, essa atriz versátil. Parecia uma de nós, contando que chorou quando viu o Roberto Carlos. Pode?
A entrevista estava no fim, quando chegou a Marieta, ela que é peque que nem a gente. E a Andrea me contou que as duas compraram um teatro no Rio. É, é isso mesmo. Elas têm um teatro- o Teatro Poeira -, em que cuidam da programação, produzem, se divertem. Vamos fazer isso também, amiga? Comprar uma casa antiga no centro, reformar e fazer nosso Teatro “Flores de Raposa”? Só que só vai valer entrar espetáculos que soprem ternuras terrestres. Para terminar, ela me contou um segredo: disse para os filhos que toma um “anti-morrente”, não é demais? Quando pedi a receita, ela falou que vai preparar um pra mim e outro pra você.
Lobby saudades
Mazi

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Gossip

Elas chegam produzidas. Gloss na boca e cheiro de perfume. O vinho na mão direita e a bolsa lotada de cacarecos, na esquerda. Logo o ritual começa: a abobrinha cintila na frigideira enquanto a Luciana começa a falar, espirituosamente de coisas prosaicas. Pluft. Abrimos o vinho. A Mariana bate palmas quando dá risada, enquanto a Renata conta das peripércias de se trabalhar com cinema. “Ih ... já acabou a primeira garrafa de vinho? Sem problemas, vamos pra segunda”. Papo vai, papo vem, as novecentas prospecções, fofocas do mundo real, a novela - porque não? Harebaba, quanta bobagem gostosa. A abobrinha está no ponto e o massa quase pra sair. A Luciana com os cílios que fazem vento, adverte as amigas, puxa a orelha e pede colo. “Ih... acabou a segunda garrafa? porque a gente não abre uma champangne”. São as minhas “gossip girls” -um pé aqui, outro em NY. Das abobrinhas e os jantares em casa, aos sábados dançantes na pista da Neu, passando pelas madrugadas berrantes no carro cantando músicas de amor. Minhas “gossip-girls”. É a Lu, que me puxa pelo braço quando eu estou quase caindo na ladainha: “Ah Mazinha, você já estava toda na pontinha do pé, falando com ele, não vou deixar”. Tá bom, Lu. São as noites de quarta. Super finas, mesmo. Bebendo 8 garrafas de vinho - meio da semana- em plena mercearia. É a Re, minha morena informada, que esbanja charme, tem as melhores histórias e atrapalha o coração dos rapazes. É meu SOS Maricota, que fala : “Minha princesa dzó, vem que eu te salvo”. Empresta vestido uma hora antes do casamentotodacoloniajudaicapeloamordedeus, me resgata nas madrugadas desconfortáveis, leva casacos quentinhos pra me aquecer nas viagens. Fotos, flagras e até cartão de corretor de imóveis mesquinho, levam para casa, entre os olhares apaixonados dos meninos. O que eu faço com essas minhas gossips do Paraguay? Que têm glamour de pé- de- serra? Bebem champangne mas caem no samba da Meirinha.Vai churrasco, vem praia, trocas de e-mail engraçados, pic -nic, virada cultural. Pandocas de plantão, essas meninas. Registram o coração de ponta a ponta, mapeam toda as neuroses da cabecinha e ainda falam as coisas certas. Sem nunca perder essa graça toda.

Meninas, não cabe, é muito amor.

xoxo.

Mazi

terça-feira, 16 de junho de 2009

em miúdos

A gente pode combinar assim: Paco de Lucia, flores amarelas e vasos azuis. O que você acha? Algumas fotografias espalhadas nas paredes e porta-retratos nas mesas, com fotos de amigos e nossos afilhados. A pia que pinga algumas vezes ao dia. Lençóis de malha azul-claros e uma cortina fosca, para filtrar os primeiros raios da manhã. Como na música de Dolores Duran em que os “pingos de chuva de ontem, ainda estão a brilhar”. Eu gostaria também de uma cristaleira para guardar as taças e cálices da minha avó Regina, só coisa chique, polonesa. Junto, a gente pode colocar algumas porcelanas e outros cacarecos das nossas viagens. E quem sabe até uma vitrola? Sabia que o Cortázar dizia que Gardel só deve ser escutado em vinil? Taí. Quero uma vitrola para escutar Gardel e chorar na janela, ás vezes. Se você quiser, a gente encomenda uma poltrona bem confortável pra você dormir, sábado a tarde, lendo o jonal. Vou dar um jeito, também, de arrumar um canto pra você repousar seu violão, prometo. Tá vendo como eu não sou mimada? Mas faço questão de uma banheira - com bastante espuma. Vou separar as melhores essências, você sabe. Depois, quando você brigar comigo porque pendurei aquele quadro da herança da sua família de um jeito torto, eu nem vou ligar. Você vai me pedir desculpas, mesmo. Porque vai ver na geladeira, que comprei aquele suco de maçã que você adora. E você não se aguenta quando eu te faço surpresas, parece uma criança, ganhando presentes. Adoro isso. Essa alegria infantil que escapa de você, de vez em quando. E prometo que não vou ficar gritando pela casa que o Corinthians é o melhor time do Brasil, bem quando o São Paulo perder, juro. Foi só aquela vez, tá? Mas todas essas concessões tem seu preço, mocinho. Vou querer brigadeiro de panela e massagem no pé, uma vez por semana, tá? E se você deixar a louça tinindo eu posso até pensar em não jogar fora aquele bando de revistas Placar. Deal?